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Fazenda Arrecife – Estromatólitos Neoproterozóicos Varzea Nova BA

 

Fazenda Arrecife – Estromatólitos Neoproterozóicos

Imagine o seguinte cenário: um deserto de dunas e interdunas, com inúmeros lagos temporários. Agora imagine um período de glaciação onde icebergs que se desprendiam de geleiras de montanhas próximas flutuavam sem rumo sobre a água do mar. Imaginou? Agora imagine esse mesmo mar, um mar raso com as ondas indo e voltando, os fluxos e refluxos de maré, com águas quentes, salgadas e alcalinas onde microorganismos diversos como bactérias e algas azul-esverdeadas encontravam o lugar propício para se desenvolver.

Esses foram alguns dos cenários pelos quais algumas áreas da Chapada Diamantina e do Piemonte da Chapada passaram ao longo de sua complexa evolução geológica. A área do município de Várzea Nova também participou dessa evolução.


A história deposicional da Chapada Diamantina começou a cerca de um bilhão e seiscentos milhões de anos, com a implantação, a oeste, de uma planície aluvial com rios entrelaçados, associados lateralmente a um deserto onde predominavam dunas e interdunas com lagos temporários numerosos (Formação Tombador).


Nesse estágio foram depositados areias e cascalhos de origem fluvial, intercalados com areias transportadas pelo vento, típicas de dunas, além de outras, com grãos de tamanhos variados e lamas da região de interdunas.

Findo esse estágio esses sedimentos continentais foram recobertos por sedimentos transicionais e marinhos, depositados na forma de lamas, com siltes e areias mais subordinadas.

Entre 1,3 e 1,2 bilhão de anos atrás, a Formação Tombador foi invadida por um mar denominado “Mar Caboclo”, que retrabalhou os sedimentos continentais (Formação Caboclo).

Há cerca de 970 milhões de anos, a acumulação de rochas anteriormente descritas foi interrompida por um período de glaciação (o mais extenso intervalo glacial da história da Terra, com quase 450 milhões de anos de duração, do qual se tem registro em todo o globo), responsável pelos conglomerados e pelitos da Formação Bebedouro. O fim da glaciação provocou uma subida generalizada do mar epicontinental (nesse momento geológico os continentes estavam unidos, formando a Pangéia), o que resultou em uma extensa invasão marinha, criando as condições necessárias para a implantação da plataforma carbonática da Formação Salitre. Nessa Formação (assim como na Formação Caboclo) são comumente encontradas estruturas chamadas estromatólitos .


Os estromatólitos formam-se através da atividade metabólica de organismos protistas, especialmente bactérias e/ou algas azul-esverdeadas (cianofitas). Ao captarem os carbonatos existentes nos meios onde viviam e metabolizá-los, os depositavam em suas membranas celulares.

Estes organismos constituíam relvas de algas, disseminadas nos fundos dos mares plataformais daquele momento geológico. Os mais antigos estromatólitos registrados até o momento apresentam idade em torno de 3,5 bilhões de anos (Grupo Warrawoona, Austrália), e são considerados as mais antigas evidências de vida macroscópica na Terra. Em nossa região existem estromatólitos do mesoproterozóico (Formação Caboclo) e do neoproterozóico (Formação Salitre).

Nesse contexto , Várzea Nova possui um importante sitio geológico/paleontológico: a Fazenda Arrecife.

Conforme SRIVASTAVA & ROCHA (2002): “O sítio geológico-paleontológico da fazenda Arrecife, é um importante afloramento de construções biosedimentares da Formação Salitre (Grupo Una), de idade Neoproterozóica, ainda pouco estudado, que apresenta valiosas exposições, sem paralelo em sua beleza, de bioermas estromatolíticas. Portanto, é necessário que este sítio seja preservado, não somente para pesquisas científicas, mas também como um patrimônio natural e turístico do Brasil”. (Pág. 100)

“Esse local abriga uma das mais impressionantes exposições de bioermas de estromatólitos colunares, associados a tempestitos, constituindo um notável exemplo de preservação de estromatólitos e de estruturas sedimentares. A natureza e a beleza desses afloramentos, que ocorrem numa área pouco povoada e de fácil acesso, aliadas a sua importância para a geologia e para a paleontologia do Neoproterozóico do Brasil, justificam a adoção de medidas para a sua preservação.” (Pág. 96)



“Na região do sítio da fazenda Arrecife afloram o grupo Chapada Diamantina, que integra o supergrupo Espinhaço (Mesoproterozóico) e o grupo Una, que integra o supergrupo São Francisco (Neoproterozóico). O grupo Una, ao qual pertencem as rochas carbonáticas que motivaram a criação do sítio da fazenda Arrecife, possui as seguintes unidades: 1) a formação Bebedouro, que ocorre na base, constituída por argilitos, siltitos, arenitos e diamictitos, com seixos de composição variada e estruturas dropstones , considerada de origem glacial; 2) a formação Salitre, que ocorre no , constituída por rochas carbonáticas (calcilutitos, calcissiltitos, calcarenitos, laminitos algais e margas), ricas em bioermas e biostromas de estromatólitos de diversas natureza e tamanho.” (Pág. 97)

“Devido a sua excelente preservação, os estromatólitos da Fazenda Arrecife possuem grande importância para diversos estudos geológicos na região, como por exemplo: (1) identificação de paleoambientes deposicionais (salinidade, paleocorrentes, profundidade); (2) datação das seqüências carbonáticas hospedeiras, através da associação de estromatólitos e sua eventual correlação bioestratigráfica com outras regiões; (3) reconstrução de condições paleogeográficas da região; (4) determinação de ritmo astronômico e a interpretação dos regimes de marés; (5) computação de taxas de sedimentação, e (6) prospecção de microfósseis construtores de estromatólitos do sítio.” (Pág. 96)

SRIVASTAVA & ROCHA deixam claro a importância e potencialidades do sitio. Cabe à nós, enquanto cidadãos varzeanovenses, lutar e construir instrumentos e meios para a valorização e preservação, além da exploração das potencialidades científicas, educacionais e turísticas do que nosso município tem de peculiar. Afinal, “é preciso conhecer o espaço em que se habita para produzir as idéias necessárias para transformá-lo”.


Fonte: Erickson Batista de Oliveira
Equipe do Informe Várzea Nova