Aracê é um nome indígena, tupi-guarani, que
significa “aurora, o nascer do dia, o canto matinal dos pássaros. A
escolha do nome não tem nenhuma conotação regional, tendo sido buscado da
linguagem indígena, assim como foi feito para diversas outras localidades.
Na região da Pedra Azul não existem registros da presença indígena. Eles
foram encontrados mais ao sul na região de Castelo e Conceição de Castelo.
O distrito foi
conhecido inicialmente como São Rafael e mais tarde Pedreiras. O Decreto
Estadual nº 15.177 de 31 de dezembro de 1943 deu a denominação de Aracê
para o antigo distrito de Pedreiras.
Quando o Governo
Federal decidiu construir uma rodovia ligando o Espírito Santo a Minas
Gerais coube aos engenheiros da Secretaria de Viação e Obras Públicas do
Estado do Espírito Santo percorrer o trecho para as definições de
projeto. Em suas andanças, um dos engenheiros, Manoel dos Passos Barros,
foi trocando o nome de algumas localidades, algumas por já existir o nome
em outras regiões do país, como foi o caso de Pedreiras e outras porque
ele gostava dos nomes indígenas. Pedreiras foi mudado para Aracê por
sugestão do Dr. Barros. Esse costume do Dr. Barros continuou por muito
tempo e deve-se a ele o batismo de diversas localidades como nomes
originários do tupi-guarani como Aracê, Indaiá, Iuna, Irupi, Caparaó,
Ibitirama, Ibatiba, Manhuaçu, Manhumirim, Itarana, Itagassu, etc.
A ligação entre
Minas e Espírito Santo pela Região Serrana data de 1816, conforme dispunha
a carta-régia de 4 de dezembro daquele ano. A entrada para Minas se dava
na região de Afonso Cláudio. A chegada até Belo Horizonte era bastante
difícil. Após a independência do Brasil a via passou a denominar-se
Estrada de São Pedro de Alcântara em homenagem ao primeiro Imperador.
Ainda estabelecia a carta régia que fossem criados quartéis à margem da
estrada com o objetivo de dar segurança aos viajantes contra animais
ferozes e até mesmo índios que aqui viviam em sua proximidade. Os
quartéis receberam nome de cidades existentes de Portugal sendo esta a
razão dos nomes dos distritos Distrito de Melgaço e da localidade de
Barcelos no distrito de Aracê.
Em Domingos
Martins a estrada passava, no sentido oeste-leste, por Barcelos, Tijuco
Preto, Pena, Melgaç e Chapéu. Seguindo de Chapéu um ramal passava por
Califórnia até o Porto de Cachoeiro de Santa Leopoldina. A partir de
Chapéu também existiu um outro ramal passando por Pedra Branca, São
Miguel, Galo, Biriricas até Borba, em Viana, e então o Porto Velho de
Vitória. Borba era o nome de um dos alferes que comandou este quartel e
que foi o primeiro a policiar a referida estrada.
Também a partir de
Chapéu existiu um ramal que chegava até Campinho e Santa Isabel seguindo
até Biriricas, em Viana. D. Pedro II, em suas anotações sobre a visita à
colônia de Santa Isabel, quando chegou à casa do diretor da colônia, em
Campinho, mencionou o referido ramal que dava passagem ao Morro do Chapéu
no Braço Norte do Jucú. Teve intenção de ir até Chapéu, mas foi impedido
por não estar bem do estômago. (Ver o parágrago 13, pág. 6 do livro de
Levy Rocha – Viagem de Pedro II ao Espírito Santo).
Através dessa
estrada ocorreu a colonização germânica da região, no final do século
dezenove, por volta do ano 1870. A chegada dos primeiros imigrantes
alemães no município se deu na região de Santa Isabel e Campinho. Com o
passar dos anos as famílias foram crescendo e muitos partiram em busca de
melhores terras já que o interior do estado era completamente desabitado,
principalmente na região serrana.
Ao longo da antiga estrada foram
estabelecendo propriedades. Pode-se notar ainda hoje a predominância de
descendentes de origem alemã ao na região por onde passava a estrada.
Bastava ocupar as terras devolutas para se tornar o dono o que facilitava
a expansão da colonização.
A região de São
Rafael se tornou um a vila importante já que lá existia o Cartório de
Registro Civil. De São Rafael algumas famílias se aventuraram em direção
à nascente do Rio Jucú, chegando até a região de Pedreiras, assim batizada
pela grande quantidade de pedras lá existentes. Estabeleceu-se um núcleo
de colonização alemã na região com a maioria das posses pertencendo ao Sr.
Franz Küster.
A grande
dificuldade desses primeiros habitantes era o isolamento das demais
colônias. Não havia estradas e chegar até São Rafael era penoso e
demorado. Um surto de febre acabou acometendo os moradores da região que
foram quase dizimados, pela falta de remédios. Tiveram que improvisar um
cemitério para enterrar seus mortos, mesmo antes de construir uma igreja
luterana. O frio intenso também criava dificuldades e o ataque de animais
silvestres, principalmente onças dizimavam as criações. O caminho para
outras regiões parecia bloqueado pela cortina de pedras e assim muitas
famílias começaram a regressar para São Rafael.
No início do
século vinte (por volta de 1900) apareceram na região os primeiros
imigrantes italianos. A sua chegada ocorreu por caminhos até então
desconhecidos pelos alemães e que foram desbravados a partir de outras
direções. Uma primeira leva chegou pelo lado de São Floriano, subidos de
Alfredo Chaves pela região de São Bento de Urânia. Os primeiros foram da
família Canal que já haviam chegado até São Floriano. Logo vieram os
Bravim, Greco, Módolo, Uliana, Bassani, Lorenzoni, Curbani e outros. Eles
chegaram até o alto de Pedreiras e começaram a atrair outras famílias que
foram adquirindo a posse dos alemães que voltaram para a região de São
Rafael
Uma outra leva
chegou por trás da Pedra Azul, passando por Castelinho em direção a São
Paulinho. Eram os Fassarela, Pizzol, Gagno Girardi, Peterle Gagno e
tantos outros. Naquelas bandas ainda não havia colonização e as terras
foram sendo ocupadas e desmatadas. Os primeiros moradores chegaram a
explorar a região de Venda Nova, mas devido à dificuldade de estabelecer
uma estrada entre as duas regiões não ficaram por lá. Dizem ainda que as
matas de Venda Nova foram consideradas muito cerradas e com arvores muito
grossas, dificultando a derrubada. A ocupação da região de Venda Nova se
deu por outros imigrantes, através do caminho de subida do Rio Castelo.
Com a chegada dos italianos a comunicação da
região de Pedreiras com outras localidades passou a ser feita através de
Matilde, em Alfredo Chaves. A única relação com São Rafael era o Cartório
do Registro Civil, já que a região estava vinculada àquela localidade. O
desenvolvimento de Pedreiras se deu de forma mais rápida que São Rafael,
já que a estrada imperial estava sendo abandonada.
O comércio começou a
ser estabelecido com Matilde e depois Araguaia, que contavam com a linha
de trem. Não tardou e o Cartório acabou transferido para a região de
Pedreiras, funcionando inicialmente onde hoje é a propriedade do Sr.
Donaldo Fontes, sendo seu titular o Sr. Olendino José dos Passos. Quando
seu filho Floriano Placedino dos Passos casou-se com Margarida Uliana e
assumiu a titularidade, o cartório foi transferido para a fazenda Bassani.
Com a morte do Floriano, a viúva Margarida passou a morar em Pedra Azul,
para onde transferiu o Cartório.
A comunicação com
Minas precisava ser retomada e foi projetada pelo Governo Federal uma nova
rodovia ligando os dois estados. O traçado inicial da nova via era
diferente do curso da estrada imperial, mas continuava passando por São
Rafael, ou seja, não passaria por Aracê e Venda Nova do Imigrante. A
região era considerada instransponível para uma rodovia pela quantidade de
pedras existentes. O traçado continuava por São Rafael saindo em
Barcelos, seguindo por Indaiá, Iuna e Caparão, só então entrando no Estado
de Minas Gerais.
O engenheiro da
Secretaria de Viação e Obras Públicas, Dr. Dido Fontes de Faria Brito, ao
percorrer o trecho acabou alterando o traçado da via, deslocando-a para
Aracê e Venda Nova, que já eram importantes centros comerciais regionais.
O que também impressionou ao Dr. Dido foi a beleza e o clima da região,
semelhantes ao Europeu. Mais ao sul do estado, por interesse do
Governador Muniz Freire, o traçado foi alterado para passar pela região de
Ibatiba. O governador possuía terras na região e incluiu o traçado
passando pelas suas terras, deixando de lado a região de Iuna, por onde
passava o tracado inicialmente projetado.
Muitos anos
depois, já com a rodovia aberta, o Dr. Dido Fontes acabou comprando uma
propriedade em Aracê, mantida até hoje pelos filhos. Parte da fazenda foi
transformada atualmente no Condomínio Cerro Azul.
Com o
asfaltamento da rodovia, nos anos 60, a região começou a mudar. O Estado
do Espírito Santo reservou uma grande área para preservação, a atual
reserva da Pedra Azul e
do Forno Grande. Em uma outra propriedade até hoje conhecida como Fazenda
do Estado e começou a incentivar experimentos agrícolas. O primeiro
engenheiro agrônomo foi o Dr. Mendes da Fonseca, que acabou substituído
por Júlio de Oliveira Pinho, um português recém chegado ao Brasil que
escolheu a região para se estabelecer.
Acabou atraindo outros
portugueses, como o irmão Delfim Oliveira e o Cunhado Delfim Lemos de
Pinho. Novas culturas foram introduzidas e começaram a mudar o perfil
econômico da região. De uma agricultura de subsistência a região passou a
ser exportadora de hortifrutigranjeiros para a CEASA e outras regiões do
País. Um outro português chegado na região, Álvaro Manoel da Silva Aroso,
introduziu o cultivo do morango, que hoje representa uma das principais
atividades agrícolas do período de inverno.
O presidente da
Vale do Rio Doce, Eliezer Batista ao conhecer a região se encantou com o
lugar, tornando-se proprietário de um sítio o que acabou atraindo outros
empresários para a região. Novamente Julio de Oliveira Pinho foi
precursor de outra atividade importante, que foi a atração de visitantes e
turistas.
Começou em sociedade com o irmão Delfim Oliveira, o Restaurante
Lusitânia. Com o sucesso do empreendimento partiu para o ramo hoteleiro
construindo o primeiro hotel na região, a Pousada dos Pinhos. Logo outros
moradores começaram a seguir o exemplo buscando alternativas outras, que
não somente a agricultura.
Olimar Peterle construiu o restaurante e
lanchonete Peterle´s ampliando depois os negócios para o ramo de pousada.
Outros empreendimentos hoteleiros, pousadas, lanchonetes e restaurantes
ajudaram a desenvolver o agro-turismo e agro-negócios, transformando a
região em uma das que possui maior renda ´per capita` do país. Atualmente
a atividade ligada ao turismo ocupa importante espaço na geração de renda
e negócios em Aracê.
Já existe um forte movimento que visa a emancipação
do distrito para formar o município de Pedra Azul do Aracê. A idéia é a
de se criar um novo modelo de gestão municipal, com vereadores sem
remuneração em que a máquina pública ocupe o menor espaço possível, sendo
apenas fomentadora de gestão a ser realizada pela iniciativa privada. O
novo modelo de administração conta com o apoio do Governador Paulo Hartung,
que deixou no Senado um projeto de Lei tornando voluntário o trabalho de
vereadores em municípios com menos de quinze mil eleitores. Como embrião
do novo município foi criada a Agencia Viva Pedra Azul.
Esse é o Aracê que caminha a passos largos para a emancipação política,
orientada para o equilíbrio com a natureza, o desenvolvimento sustentável
e redução da máquina pública, vereadores em regime de voluntariado, sem
salários, mas isso até o momento está só no papel.
Valdir Antonio Uliana
(Engenheiro Civil)
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