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HISTORIA
ITANHAEM
BRASIL




Itanhaém na Época da Fundação
ITA HAÊ = (BACIA DE PEDRA)

Gabriel Soares de Sousa, em seu livro "Tratado Descritivo do Brasil em 1587", alega que os índios tamoios faziam fronteiras com os guaianazes, os quais tiveram sua demarcação ao longo da costa por Angra dos Reis até o rio de Cananéia, onde ficavam vizinhos com outra casta de gentios, que se chamavam carijós. Os guaianazes tinham continuamente guerra com os tamoios de um lado e com os carijós de outro, matando-se uns aos outros cruelmente.

Os guaianazes não eram maliciosos, nem refalsados, mas simples e bem acondicionados, facílimos de crer em qualquer coisa, tribos de pouco trabalho, não se utilizavam da lavoura, viviam da caça e pesca, além de frutas silvestres que a mata lhes dava; porém, eram grandes flecheiros e inimigos de carne humana. Não matavam aos que cativavam, mas aceitavam-nos por escravos. Se encontrassem com gente branca, não faziam nenhum dano, antes boa companhia e quem tivesse um escravo guaianaz não podia esperar dele nenhum serviço, pois era folgado de natureza e não sabia trabalhar. Eles não costumavam fazer guerra aos seus contrários, fora de seus limites, nem iam buscá-los em vivendas, porque não sabiam pelejar entre o mato, senão no campo aonde viviam, e se defendiam com seus arcos e flechas dos tamoios, quando entravam em guerra.

Alguns não viviam em aldeias com casas arrumadas, como os tamoios, seus vizinhos, mas em covas pelo campo, debaixo do chão, onde têm fogo de noite e de dia e fazem suas camas de rama e pele de animais que matavam. A linguagem era muito diferente de seus vizinhos, mas entendiam-se com os carijós.

As informações que se dispões sobre os habitantes da costa brasileira em 1500 são provenientes dos relatos escritos por europeus da época, os chamados cronistas, e de vestígios materiais recuperados por arqueólogos. Somando esses dois tipos de informação, escrita e material, e tendo como referência o modo de vida de grupos indígenas da atualidade podemos então fazer uma reconstituição de como estavam organizados os índios na época em que chegaram os europeus.

Os principais fatos comentados nos documentos escritos no século XVI são aqueles que causaram maior impacto aos primeiros observadores. Foram relatados levando em conta seu aspecto curioso, pitoresco. Mas uma análise detalhada dessas fontes de informações mostra que, além dos comentários sobre as diferenças de hábitos, existem descrições de aspectos da vida cotidiana dos índios. São descritas as casas, o modo de organização, os objetos fabricados e utilizados, a maneira de comer e a forma de conseguir alimentos. Assim, os vários hábitos e costumes registrados nos relatos permitem entender melhor o modo de vida dos habitantes do Brasil, e, em nosso caso, da costa sul paulista, nessa época.

De acordo com Maria Cristina Mineiro Scatamacchia, arqueóloga do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, autora do material didático "O Encontro Entre Culturas", os vários grupos de índios que entraram em contato com os europeus no século VI falavam uma língua semelhante. Eles podiam se comunicar entre si ao longo de toda a costa. Os estudiosos de línguas os classificaram como integrantes de um grande conjunto lingüístico chamado Tupi-Guarani. Não formavam uma única sociedade, às vezes os grupos eram rivais uns dos outros.

Mas mesmo tendo recebido várias denominações, como tupinambás, tamoios, tupiniquins, carijós e guaranis, possuíam um modo de vida parecido, culturas semelhantes, sendo as diferenças apenas regionais. Esses grupos indígenas foram descritos pela primeira vez na carta de Pêro Vaz de Caminha: "Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse as suas vergonhas. Traziam nas mãos arcos e setas... traziam o lábio de baixo furado e metido nele um osso branco e realmente osso, do comprimento de uma mão travessa e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador: "Metem-nos pela parte de dentro do lábio, e a parte que fica entre o lábio e os dentes é feita à roque-de-xadrez, ali encaixado de maneira a não prejudicar o falar, o comer e o beber".

O adorno descrito por Caminha é denominado tembetá e pode ter várias formas. Os conhecidos até agora são de pedra, osso ou resina. Como se tratava de um hábito muito diferente, o uso do tembetá é mencionado em quase todas as narrativas e crônicas referentes aos habitantes da nova terra.

Hans Staden é quem fornece informações sobre o significado do uso desse adorno pelos integrantes do grupo do Patologia masculino: "No lábio inferior têm um grande orifício e isso desde a infância. Fazem, nos meninos, com um pedaço aguçado de chifre de veado, um pequeno furo através dos lábios. Aí metem uma pedrinha ou pedacinho de madeira e untam-no com seus ungüentos. O pequeno buraco permanece então aberto. Quando os meninos crescem e se tornam capazes de trazer armas, fazem-lhes maior esse buraco.

Enfia-se então no mesmo uma grande pedra verde".O que podemos depreender dessa citação é que o uso desse adorno correspondia a uma maneira de marcar socialmente a entrada do indivíduo homem na adolescência, período da vida comemorado em várias sociedades até hoje. Assim, o tembetá tinha um significado social à primeira vista difícil de perceber. Como o modo de viver e de se organizar não era parecido com o que os portugueses conheciam, os indígenas foram descritos como seres sem lei e sem rei, e isso sempre com referência aos valores europeus.

As casas eram dispostas em torno de um pátio - o local de festas -, formando uma aldeia. Algumas aldeias são descritas como tendo uma cerca de troncos enfileirados à sua volta, como forma de proteção contra os inimigos. As casas eram construídas de madeira e cobertas com folhas de palmeiras e, segundo alguns cronistas, duravam de seis a oito anos. Depois desse tempo, ocorria o deslocamento para uma nova aldeia, às vezes não muito longe da anterior. Essa mobilidade está de acordo com o tipo de agricultura praticada. Os índios derrubavam uma parte da floresta e colocavam fogo na área que seria plantada. Com o tempo`, a terra ia ficando fraca, havendo necessidade de mudança de local, para que o terreno pudesse descansar e recuperar a antiga fertilidade. A vida em equilíbrio com o ambiente era importante para garantir novas coletas e a produção dos alimentos necessários. Os materiais com que as aldeias eram construídas apodreciam com o tempo, em decorrência da umidade existente nas áreas tropicais.

Cada aldeia tinha um chefe principal. Mas não existiam diferenças entre o que as pessoas possuíam ou faziam. Havia apenas uma divisão de tarefas entre homens, mulheres e crianças. Esse tipo de sociedade igualitária era diferente da sociedade européia do século VI, na qual as pessoas tinham profissões, poderes, riquezas variadas, tal como hoje.

O chefe da aldeia não tinha o poder de um rei, como os europeus conheciam. Ele trabalhava como os outros homens do grupo, e seu poder de liderança era exercido durante as reuniões, nos períodos de guerra ou em situações de calamidade.

Os tupis-guaranis viviam em constante guerra com seus inimigos, que eram todos aqueles que pertenciam a tribos diferentes. O motivo da guerra era a vingança. A guerra tinha a função social de manter obrigações definidas pela relação de parentesco. Fazia-se a guerra para vingar um ascendente que havia sido aprisionado. Mas o que causou grande espanto foi o costume dos índios de comer seus inimigos, a antropofagia.. Todas as ramificações da nação tupi praticavam o canibalismo. Em 1500, os europeus se espantaram com a belicosidade dos tupinambás, que habitavam a costa brasileira de São Paulo ao Ceará. Os índios, da família lingüística tupi-guarani moravam em aldeias de 2.000 habitantes, mantinham relações pacíficas entre si e faziam alianças para atacar outras aldeias.

O valor fundamental da sociedade tupinambá era predar o inimigo. Predação repetida sem fim. Eles viviam para guerrear. A lógica da guerra não era o extermínio e sim o cultivo da inimizade. O objetivo era valorizar-se apropriando-se das qualidades do oponente. O sacrifício honrava a vítima e o carrasco. A execução poderia demorar meses. O captor cedia sua casa ao cativo. Cedia também uma irmã, ou filha, como esposa. O preso circulava pela aldeia e era exibido aos vizinhos.

O padre Anchieta conta, em suas "Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e Sermões" , que viu um preso desafiar o algoz aos gritos: "Mata-me! Tens muito que te vingar de mim! Comi teu pai. Comi teu irmão! Comi teu filho! E meus irmãos vão me vingar e comer todos vocês". Comer o inimigo era afirmar potência. O canibalismo exprimia a força do predador, na sua capacidade máxima. Para eles, os seres potentes eram devoradores.

Em 1553, o alemão Hans Staden naufragou em Itanhaém, e ficou nove meses na aldeia do cacique Cunhambebe, na região de Mangaritiba, Rio de Janeiro. Ele mesmo participou de uma expedição de canoa até Bertioga, em São Paulo, para capturar inimigos. Mortos e feridos foram devorados no campo de batalha e durante a retirada. Os cativos foram levados para a aldeia, para que as mulheres pudessem participar do ritual antropofágico.

A catequese dos brancos acabou com esse canibalismo guerreiro. O ritual pertencia a uma cultura estável, que foi desestruturada até em grupos mais arredios. De acordo com análises do Museu Indígena de Monte-Mor na urna funerária que hoje se encontra exposta na Casa da Memória, os tupis (tronco familiar chave) habitavam todo o litoral paulista, desde a época do descobrimento e dos primeiros colonizadores, dadas as informações obtidas em escritos de José de Anchieta, Frei Gaspar, etc.

Os índios praticam o que chamamos de economia de subsistência. Esse tipo de economia consiste na exploração e administração dos recursos materiais de um território com o objetivo apenas de satisfazer as necessidades básicas de sobrevivência. Assim, não havia a preocupação de conseguir mais recursos do que aqueles realmente necessários, e cada aldeia era auto-suficiente. Esses grupos humanos viviam da agricultura, da coleta de frutos e plantas silvestres, de mariscos e ostras, além da caça e pesca. A mandioca era a base da alimentação em grande parte do litoral. Ao sul do Brasil, o milho representava o alimento mais importante.

Os vários utensílios permitiram a execução das atividades de sobrevivência. As diferenças na realização das tarefas eram determinadas pelo Patologia e pela idade. Os homens derrubavam árvores, abrindo clareiras, caçavam e pescavam. Preparavam objetos de pedra e madeira para a realização dessas tarefas. As mulheres plantavam, faziam cerâmica e cuidavam da preparação da mandioca, que era transformada em bebida e em farinha. Esse trabalho com a mandioca ainda hoje é executado no interior do Brasil. Consiste em ralar as raízes da mandioca, espremer a massa para extrair o suco do qual é feita a bebida fermentada. A massa é torrada e transformada em farinha ou bolos. A bebida feita de mandioca era chamada cauim e a do milho chicha. Nas grandes festas que se realizavam, tomava-se muita bebida.

Os índios faziam grandes vasilhas de cerâmica para o preparo das bebidas. Muitas vezes enterravam seus mortos dentro desses grandes vasos, que, reutilizados, eram transformados em urnas funerárias. Eles têm sido enterrados também em redes. Essas diferentes maneiras de sepultamento são variações culturais ligadas a épocas e regiões.

Os indígenas conheciam muito bem o seu território, o que foi de grande utilidade para os europeus. Somente a partir das suas informações é que os portugueses puderam confeccionar mapas de territórios recém-descoberto. Alem de caminhar muito, os índios eram bons navegadores e se deslocavam rapidamente por extensas regiões. Fabricavam canoas de grandes dimensões que carregavam uma grande quantidade de guerreiros. Assim, os índios chamados genericamente de tupis e guaranis eram os senhores de todo o litoral na época da chegada dos europeus. Os moradores mais antigos, cuja presença é evidenciada em sítios arqueológicos de toda a costa paulista, já tinham sido por eles expulsos para o interior; os tupis-guaranis tinham atingido esse modo de vida desde aproximadamente o ano 500 da nossa era - o que significa a sobrevivência dessa cultura por mil anos - até a chegada dos europeus.

A guerra constante entre as tribos e a inimizade entre os principais grupos foram aproveitadas pelos europeus. Assim, os portugueses ficaram amigos dos tupiniquins, que eram os grandes inimigos dos tamoios e dos tupinambás, os quais se tornaram aliados dos franceses, que tentavam invadir o domínio dos portugueses. No sul do país aconteceu a mesma coisa: os grupos tupis se associaram aos portugueses, e os guaranis aos espanhóis. Na época do descobrimento e colonização, a população indígena era calculada em 4,5 milhões no território brasileiro.

O elemento português no Brasil encontrou-se numa região de baixa densidade demográfica. Além de muitos imigrantes portugueses, estabeleceram-se também muitos colonos vindos dos Açores e das ilhas de Cabo Verde. Portugal teria na época dos descobrimentos, pouco mais de meio milhão de habitantes, vivendo do comércio, das especiarias asiáticas, com agricultura insuficiente e nenhuma indústria importante. As guerras, as epidemias, as misérias, a expulsão dos judeus e dos mouros, bem como excursões náuticas, haviam diminuído a população do país.

Uma das expedições mais importantes foi a realizada entre 1501 e 1502, comandada por Américo Vespúcio, um navegador italiano. Vespúcio foi enviado por D. Manoel, rei de Portugal, com a tarefa de percorrer os lugares visitados no ano anterior por Pedro Álvares Cabral e elaborar documentos contendo informações sobre as novas terras. Américo Vespúcio é um personagem ainda misterioso, sobre o qual não se sabe muito. Mas, ao que parece, foi em razão de suas cartas, nas quais contava as maravilhas e as coisas exóticas vistas nas novas terras, que estas receberam o nome de América. Essas cartas tiveram grande repercussão na Europa, na ocasião, e eram lidas como hoje se lê um livro de aventura.

Em 15 de fevereiro de 1502, o navegador atinge a região de São Vicente, seguindo dias após para o rio Jordão, (Uruguai), lá chegando em 20 de março de 1502. primeira edição de uma das principais cartas foi publicada na cidade de Florença, em 1505. A colonização significaria a transferência de pessoas com espírito aventureiro, dispostas a deixar Portugal e a viver uma vida nova em terra desconhecida. Para motivá-las, era necessário valorizar e divulgar a nova terra; daí a importância das primeiras expedições organizadas por Américo Vespúcio. Pela leitura das cartas de Vespúcio fica-se sabendo que, em 1502, toda a costa brasileira já tinha sido reconhecida e demarcada pelos portugueses. Alguns portugueses ficaram no Brasil e, em certos lugares do litoral, foram feitas construções para facilitar a atividade dos navios que vinham buscar produtos para serem vendidos na Europa, principalmente madeira e certos tipos de animais.


Essas construções foram chamadas de feitorias, como nos casos das propriedades de Pêro Corrêa, no Porto das Naus em São Vicente, hoje Japuí; e Itanhaém, às margens do rio Itanhaém, através de João Castelhano Rodrigues.

Nos primeiros encontros, a relação entre portugueses e índios era amistosa e baseada no interesse pela troca de mercadorias. As mercadorias européias eram dadas como forma de pagamento pelo trabalho indígena. Cortar e carregar madeira, ou animais, até os navios valia um chapéu, uma camisa ou uma ferramenta. A relação entre as duas culturas começou a mudar a partir do momento em que aumentou o interesse europeu pela exploração da nova terra e houve necessidade de mais trabalho indígena. Os índios, que antes se ofereciam para buscar madeira e se divertiam com a troca de mercadorias, passaram a ser obrigados pela força a realizar aquela tarefa.

O rei de Portugal, que, em 1530, era D. João III, começou a ficar preocupado com as repetidas visitas dos franceses, que agiam como se fossem donos da terra. Assim, levado pela preocupação de garantir o seu domínio, o governo português começou a mudar de atitude. Houve então a decisão de iniciar a colonização do Brasil, com a criação de povoados e vilas, além da construção de engenhos e fortes. Dessa vez, o objetivo era se estabelecer definitivamente e não apenas freqüentar a costa para trocar mercadorias.

Para fazer isso de forma mais rápida, o rei dividiu a terra do Brasil em grandes territórios, a serem doados a homens da nobreza de Portugal que tivessem espírito de aventura, dinheiro e disposição para construir uma nova vida, além de estarem acompanhados de uma grande quantidade de marginais recolhidos na Europa. Essa divisão de terra foi feita ignorando-se as nações indígenas existentes em toda a extensão da costa brasileira. As grandes faixas de território se estendiam para o interior, ainda desconhecido dos portugueses. Foi um loteamento realizado a partir do litoral, sem considerar os habitantes nativos.

Nesse momento ocorreu uma mudança radical na relação entre portugueses e índios, pois a terra passou a ser objeto de disputa e o trabalho indígena tornou-se obrigatório. Esse processo de mudança foi se intensificando conforme o grau de contato entre as duas culturas. Houve, assim, em um primeiro momento, a troca de mercadorias de baixo valor por madeira e outros produtos. Depois, as mesmas mercadorias passaram a ser dadas em pagamento ao trabalho realizado pelos índios, que foi se tornando cada vez mais intenso, e, finalmente, o trabalho indígena passou a ser obrigatório, já que necessário para a manutenção dos portugueses na nova terra. Essa mudança significou a substituição do escambo pela escravidão.

Os índios fugiram então para o interior, deixando suas antigas casas, para escapar dos trabalhos forçados e da situação de escravidão. Para se defenderem, começaram a ter com os portugueses uma relação de guerra, que tinha como objetivo a defesa do território.
 
Referencias:
Wikipedia
Ache Tudo e Regiao

 


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Copyright © 1999 [Ache Tudo e Região] Todos os direitos reservado. Revisado em: 22 janeiro, 2020. Melhor visualizado em 1280x800 pixel