A possibilidade de extinção em massa
na Terra pode ser real
A raça humana pode ter provocado a sexta onda de
extinções em massa na Terra, de acordo com um estudo
divulgado nesta quarta-feira pela revista Nature. Ao
longo dos últimos 540 milhões de anos, cinco extinções
em massa de espécies foram causadas por fenômenos
naturais.
As novas ameaças, entretanto, são fruto da ação humana:
a redução dos hábitat, a caça e pesca excessivas, a
disseminação de germes e vírus, a introdução de espécies
e as mudanças climáticas provocadas pela emissão de
gases causadores do efeito estufa.
Evidências coletadas em fósseis sugerem que, nas cinco
grandes extinções anteriores, 75% de todas as espécies
animais simplesmente desapareceram.
Paleobiólogos da Universidade da Califórnia em Berkeley
estudaram a situação da biodiversidade nos dias de hoje,
utilizando como barômetro as espécies de mamíferos. Até
a grande expansão da humanidade, há cerca de 500 anos, a
extinção de mamíferos era muito rara: em média, apenas
duas espécies pereciam a cada milhão de anos.
Nos últimos cinco séculos, entretanto, pelo menos 80 das
5.570 espécies conhecidas de mamíferos foram extintas,
um claro sinal de alarme para os riscos à
biodiversidade. "Parece que os níveis modernos de
extinção se assemelham ao patamar registrado pelas
extinções em massa, mesmo depois do nível mínimo para
definir uma extinção em massa ter sido ampliado", disse
o pesquisador Anthony Barnosky.
Este cenário torna-se ainda mais assustador com a
quantidade de mamíferos incluídos nas categorias "risco
crítico" e "ameaça" da Lista Vermelha da biodiversidade,
atualizada pela União Internacional pela Preservação da
Natureza (IUCN, na sigla em inglês).
Na hipótese de todas estas espécies terminarem extintas
sem que a redução da biodiversidade seja combatida, "a
sexta extinção em massa pode chegar dentro de pouco
tempo, daqui a entre três e 22 séculos", afirmou
Barnosky.
Ondas de extinção
Comparada às outras cinco grandes, esta seria a mais
rápida extinção em massa já documentada. Quatro destas
ondas de extinção ocorreram num lapso estimado de
centenas de milhares e até milhões de anos, e foram
causadas principalmente por aquecimento ou resfriamento
global provocados naturalmente.
A extinção mais abrupta já estudada pela ciência
aconteceu no fim do período Cretáceo, há cerca de 65
milhões de anos, quando um cometa ou asteróide caiu
sobre a península de Yucatán, no atual México,
provocando tempestades de fogo cujas cinzas resfriaram o
planeta. Os cientistas estimam que este evento tenha
sido responsável pela extinção de 76% das espécies que
habitavam a terra, incluindo os dinossauros.
Incertezas
Os autores do estudo, entretanto, admitem algumas
fraquezas de seu trabalho. Eles reconhecem, por exemplo,
que os registros fósseis disponíveis são pouco
completos, e que os mamíferos são um marco referencial
imperfeito para medir a biodiversidade da Terra. Além
disso, estimam que serão necessários estudos mais
profundos para confirmar sua hipótese.
Por outro lado, os próprios pesquisadores indicam que
suas estimativas são conservadoras, e alertam que uma
extinção em grande escala teria um impacto inimaginável
sobre a vida humana. "A recuperação da biodiversidade
(após uma extinção em massa) não ocorrerá dentro de um
período de tempo familiar às pessoas", afirma o estudo.
"A evolução de novas espécies geralmente leva pelo menos
centenas de milhares de anos, e a recuperação de
episódios de extinção em massa provavelmente acontece em
uma escala de tempo que engloba milhões de anos".
Mesmo assim, os pesquisadores apontam que ainda é
possível ter esperança. "Até agora, apenas 1 ou 2% de
todas as espécies foram extintas nos grupos que
conhecemos claramente, então estes números indicam que
não estamos tão avançados assim na estrada para a
extinção. Ainda temos muita biodiversidade para salvar",
indicou Barnosky.
Mesmo assim, "é muito importante que dediquemos recursos
e adotemos leis e normas para proteger as espécies, se
não quisermos ser a espécie cujas atividades provocou
uma extinção em massa". Até hoje, 1,9 milhão de espécies
foram identificadas e documentadas pela ciência, entre
16.000 e 18.000 - a maioria, seres microscópicos - são
descobertas a cada ano.
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